SÁBADOS, ÀS 19H, NO BOM JESUS/IELUSC

Sessão 1/8 - Ensaio de um crime


Ensaio de um crime

Desde criança, Archibaldo de La Cruz acredita que é capaz de matar as pessoas pela força de uma caixa de música. Começa com sua empregada (morta por tiros de uma revolução). Já adulto, ele planeja assassinatos que nunca consegue realizar, apesar das vitimas morrerem de outra forma. Umas das obras mais discutidas e cultuadas da fase mexicana do mestre Luis Buñuel, que misturando suspense e humor negro, constrói uma narrativa tão psicanalítica quanto surreal, tal qual só uma mente doentia poderia ser.


Ensaio de um Crime (Ensayo de un crimen)
Gênero: Suspense
Origem: México / 1954
Direção: Luis Buñuel
Roteiro: Luis Buñuel, Eduardo Ugarte

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Ciclo de Agosto

Este Mês: Cinco filmes a gosto

Seguindo a receita do ano passado, o Clube de Cinema retorna das férias com cinco filmes escolhidos à sorte da sétima arte. Cinco obras que marcaram a história do cinema. Filmes que viraram legendas ou verbetes das enciclopédias cinematográficas. Sem tema, sem conexôes diretas e, para distanciá-los ainda mais, cada um de uma década distinta, a começar pelo surrealismo psicnalítico de Luis Buñuel dos anos 50, até chegar à marginalidade dramática de Gaspar Noé nos anos 90. E esse périplo ainda passará pela artificialidade cromática de Michelangelo Antonioni, pela fobia industrializada de David Lynch e pela poesia espectral de Ingmar Bergman. Seja qual for o seu gosto, este mês serão cinco, à sua escolha.

1/8 - Ensaio de um crime (Luis Buñuel - 1954)
8/8 - Deserto Vermelho (Michelangelo Antonioni - 1964)
15/8 - Eraserhead (David Lynch - 1977)
22/8 - Fanny e Alexander (Ingmar Bergman - 1982)
29/8 - Sozinho Contra Todos (Gaspar Noé - 1998)




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Fundamental:

Por Jean Almeida*


A igualdade é branca


Na década de 90, Krzysztof Kieslowski recebe um convite para uma empreitada cinematográfica tão simbólica quanto audaciosa: Realizar um filme para a comemoração do bicentenário da Revolução Francesa. Kieslowski opta pelo mais óbvio, mas também mais arriscado, produzir três filmes quase simultâneos, cada um representado um dos lemas da revolução: Liberdade, igualdade e fraternidade. Nascia assim a aclamada trilogia das cores: A liberdade é azul (1993), A igualdade é branca (1994) e A fraternidade é vermelha (1994).
Depois de 39 filmes e de impressionar o mundo com A dupla vida de Veronique, o cineasta polonês constrói uma tríade não linear, com peças que interagem subjetivamente e se completam à mesma medida em que se constrói o discurso do diretor. Com tanta ligação, acaba sendo difícil dizer que estas possam ser obras independentes, mas cada filme, cada roteiro tem valência própria e de aspectos individuais bem definidos, apesar do grande contexto. Assim dá para entender quando o público opta por um dos três, quando elege seus filmes favoritos.
Nessa opção, sempre me pareceu curioso que a maioria das citações exclui o segundo, o "Branco". Talvez por conta da mania comercial de alterar o títulos originais dos filmes, o espectador seja levado a entender que cada lema do ideário iluminista esteja isolado em cada uma das produções. Detalhe que me incomoda, uma vez que o título original da trilogia é deveras simples (em tradução literal): Três cores: Azul; Branco; Vermelho. Disposição bastante significativa, já que Kieslowski pretendia discutir os ideais franceses no contexto do estabelecimento da União Européia. Forma que, pela simplicidade, já era questionadora.

A partir das já estabelicidas interpretações, o Branco se encarrega de expressar - ou discutir - a igualdade. Mas, "que igualdade é essa?", como pergunta o próprio protagonista, o polonês Karol Karol, num tribunal de uma União Européia multicultural que não fala sua língua. Numa clara alusão ao Papa da época, o também polonês Karol Wojtyla (primeiro Papa não italiano em 465 anos), Karol migra para a França, ou seja, da Europa para a Europa, em busca de um país melhor. Morando em Paris, seu casamento com a francesa Dominique é a primeira referência de Kieslowski à igualdade. Um matrimônio não consumado, dolorido para o marido e egoísta por parte da esposa. Em referência à O desprezo de Godard, Karol, humilhado pela esposa, retorna ao seu país valendo-se da venda de suas reservas morais e após encenar a própria morte, prepara a vingança contra a mulher. Assim como a Polônia do fim dos anos oitenta, o protagonista ressurge, vendendo seus compatriotas, ou o próprio país, a fim de parecer um outro polonês.

Não à toa o Branco é o filme do meio, numa tentativa de descrever que tanto a liberdade quanto a fraternidade, só são possíveis por meio da igualdade. Assim, ambas tem suas aparições na trama. Como Julie (Juliete Binoche), protagonista do Azul, que espia o julgamneto do divórcio, como a liberdade esperando que a igualdade seja estabelecida. Ou os amigos, Karol e Mikolaj, que envoltos em seus cachecóis e suéteres vermelhos como o sangue da fraternidade, se ajudam e celebram a liberdade com o grito, em uma polônia congelada em branco. O Branco é o elo de ligação que tenta refletir os ideais revolucionários na então Europa unificada. Talvez o discurso mais pessoal e envolvente de Kieslowski, que usa sua terra natal para discutir relações internacionais de sua própria vivência, perguntando: Que liberdade é essa? Que fraternidade é essa? Enquanto a igualdade ainda é utopia. Ao fim da trilogia, no fim do último filme, o diretor nos apresenta todos os seus personagens como náufragos da catastrófica balsa da União Européia, retomando a igualdade, colocando todos no mesmo barco.

Se não a mais profunda, o Branco vem a ser pelo menos a mais política das três obras. Mas para além da exposição clara das disparidades econômicas e sociais entre França e Polônia, Kieslowski constrói uma narrativa poética que delata nossas relações atuais, quando Karol, que não "vive" mais, se despede da francesa Dominique, que detrás das grades de uma cadeia polonesa, sinaliza que não vai se matar, mas que vai esperar e casar-se denovo.

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A igualdade é branca (Trois couleurs: Blanc)

Direção: Krzysztof Kieslowski
FRA/POL/RU/SUI (1994)
Roteiro: Krzysztof Kieslowski, Krzysztof Piesiewicz
Fotografia: Edward Klosinski
Trilha Sonora: Zbigniew Preisner
Drama / 91 min
Elenco: Zbigniew Zamachowski,
Julie Delpy
Janusz Gajos


* Jean Almeida é cinéfilo e
organizador do Clube de Cinema.

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Cinema Fantástico


Enquanto não rola a primeira mostra Cine Vídeo de Joinville, a galera de férias (e com grana, claro!) pode dar uma "passadinha" em POA. É isso ai, tá rolando desde o dia três de julho o Fantaspoa, festival de cinema dedicado ao cinema fantástico (ficção científica, fantasma e horror). Este ano a mostra conta com 200 produções, sendo a metade longas, com filmes oriundos de todo o mundo. O festival acontece em quatro salas de cinema de Porto Alegre e vai até o dia 19/7. Para mais informações acesse o site: http://www.fantaspoa.com/2009/fantaspoa/index.php

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DVD do Mês - Julho

Um beijo roubado (My blueberry nights)

A protagonista Norah Jones: menos é mais.

O filme que abriu o último ciclo do Clube de Cinema dividiu o público, os adjetivos foram de chato à excepecional. Por conta das saídas antecipadas e dos êxtases daquela sessão, a indicação deste mês é um tanto provocativa. Um Beijo Roubado, o mais recente filme de Wong Kar Wai, mantém um certo clima de Amor à Flor da Pele, tem uma beleza plástica irretocável mas é (digamos) um pouco mais pop.
Desta vez Kar Wai está mais simples, alguns talvez diriam clichê, mas a verdade é que ele está mais americanizado ou hollywoodiano. Parte disso está no elenco que desta vez traz Jude Law, Rachel Weisz, Natalie Portman, Norah Jones (sim a cantora) e até uma pontinha da power Chan Marshall. Mas isso não é demérito, as interpretações estão em alta, mesmo com alguns textos que beiram a auto-ajuda dos romances contemporâneos. Isso tudo num azul e vermelho inebriantes de uma fotografia que transcorre sobre uma trilha sonora impecável. A protagonista Norah Jones abre um setlist que ainda conta com Ry Cooder, Otis Reeding e Amos Lee, com destaque para duas faixas poderosas de Cat Power e uma versão em harmônica de Yumeji's Theme, tema principal de ... Flor da Pele.
A história de uma jovem que em plena Nova York procura fechar as portas do passado e abrir outras para os amores futuros, torna-se um espécie de road movie espionado por entre as mobílias de um bar. Entre espera e fuga os personagens se cruzam e mergulham em si, se perdem e se encontram. Mas é a batuta de Kar Wai que torna Um Beijo Roubado um filme imperdível e o areafirma como um dos maiores diretores da atualidade.

"Em seu primeiro filme em inglês, Wong Kar Wai leva suas obsessões aos EUA" (Omelete)


Um Beijo Roubado (My Blueberry Nights)
Direção: Wong Kar Wai
Roteiro: Wong Kar Wai
Origem: China/França 2007

Disponível nas locadoras da cidade
e até em cestões de promoção.

Confira a trilha sonora


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Férias CdC

É isso aí. Julho, férias e um tempinho pra botar a casa em ordem. Este primeiro semestre já foi de reorganização para o CdC e é esperado ainda mais para o segundo. Novas propostas, projetos e idéias vem sendo postas em prática e para não correr o risco de descambar para a improvisação, uma paradinha para retomar o gás.
Quanto a esse blog, espero mantê-lo atualizado, o que já é há muito prometido.
Mas vem coisa nova por aí! Materiais novos, gente nova, novas propostas. Enfim, CdC só em agosto, mas melhor.