SÁBADOS, ÀS 19H, NO BOM JESUS/IELUSC

Amarelo Manga - 26/4




Amarelo manga (BRA, 2002)

Produzido e dirigido por Cláudio Assis
Editado e produzido por Paulo Sacramento
Roteiro de Hilton Lacerda
Fotografia de Walter Carvalho
Trilha sonora de Jorge du Peixe e Lucio Maia

Elenco: Chico Diaz, Matheus Nachtergaele, Dira Paes, Leona Cavalli, Jonas Bloch, Conceição Camarotti e Cosme Prezado Soares.

O cotidiano de pobreza, tédio e desesperança dos moradores do centro de Recife tem muitas faces sob a luz amarela hepática e embaçada do sol da capital: sustenta-se artificialmente na fé do açougueiro Wellington (que trai com a amante sua religiosa esposa, Kika), passa pela rotina sórdida dos moradores do hotel Texas (como o cozinheiro Dunga, apaixonado pelo açougueiro) e se aboleta para o merecido trago do final do dia junto aos bêbados e desvalidos clientes do bar da Ligia (como o taxista Isaac, apaixonado pela garçonete).

Primeiro longa do diretor pernambucano Cláudio Assis depois de uma série de curta-metragens e rodado com apenas R$ 500 mil, Amarelo Manga vale-se de um estilo bastante simples e direto para abordar o dia-a-dia das pessoas simples, verniz de trivialidade que encobre uma imagem mais crítica, endurecida e ríspida do brasileiro pobre, mas ainda capaz de encarnar a glória e a desgraça da vida. O conteúdo visceral, sensual até algumas vezes agressivo das imagens (o filme abre com uma seqüência detalhada do abate de bois) é reforçado pelo estouro das cores quentes e ganha contraponto na delicadeza com que a câmera é conduzida nos momentos menos impactantes do filme. Lançado em 2007, Baixio das bestas, seu segundo filme, segue as mesmas propostas formais e temáticas do trabalho de estréia.

Cor, amarela, 103 min.

Suspiria - 19/4



Suspiria (ITA, 1977)

Escrito, dirigido e musicado por Dario Argento
Produzido por Claudio e Salvatore Argento
Roteiro de Daria Nicolodi
Direção de arte de Giuseppe Bassan
Efeitos especiais de Germano Natali
Fotografia de Luciano Tovoli
Música de Goblin

Elenco: Jessica Harper, Joan Bennett, Alida Valli, Stefania Cassini, Eva Axen e Miguel Bose.

A bailarina norte-americana, Suzy Banyon é convidada para lecionar na renomada Academia de Dança de Freiberg, na Alemanha, mas, ao chegar lá, suspeita que algo muito estranho pode estar oculto tanto sob o comportamento dos alunos quanto atrás das paredes da velha escola. Uma seqüência de assassinatos sangrentos confirma suas suspeitas e transforma o que parecia um conto de fadas numa história de bruxaria: à medida que Suzy vai descobrindo as origens da escola e as histórias sobre sua fundadora, mais se aproxima daquela que talvez seja a mais poderosa feiticeira jamais conhecida. Obcecada por desvendar os segredos da maldição que paira sobre a escola, a bailarina passa a ser gradativamente dominada pela Rainha Negra e pode pagar com a própria vida o preço da curiosidade.

O sexto filme de Dario Argento não ganhou corte original em sua produção e foi lançado por partes – às vezes picotado – em diferentes países. Além do uso da cor bastante expressivo, este pesadelo do mestre italiano do gore é bastante marcado pela trilha sonora, especialmente pela colagem de efeitos como suspiros e soluços, pelo tema principal (uma distorção das velhas canções de ninar) e pela música metálica que anuncia a presença da Rainha Negra. Suas seqüências de horror e sanguinolência (extremas, agressivas) colocam o espectador em posição de desconforto e são capazes de um desequilíbrio que talvez não aceite respostas menores que o amor ou o ódio.

Cor, sangrenta, legendado, 97 min.

Kika - 12/4



Kika (ESP, 1993)

Escrito e dirigido por Pedro Almodóvar
Produzido por Agustín Almodóvar
Fotografia de Alfredo Mayo
Montagem de Pepe Salcedo
Som de Jean Paul Mugel para as músicas de Kurt Weill e Granados
Figurinos de Jose Maria de Cossio e Jean-Paul Gaultier (Andrea Caracortada)

Elenco: Peter Coyote, Veronica Forqué, Victoria Abril, Alex Casanovas, Rossy de Palma, Anabel Alonso, Jesus Bonilla e Charo López.

Em Madri, o escritor norte-americano Nicholas contrata a maquiadora Kika para deixar o cadáver de seu enteado, Ramón, pronto para o velório. Ramón – que não estava morto – desperta da crise de catalepsia, se apaixona por Kika e passa a morar com ela. O amor da maquiadora e do fotógrafo, contudo, é posto à prova: além de ser estuprada por Pablo (o desajustado ator pornô irmão de Juana, sua empregada), Kika se envolve com Nicholas. A traição da mulher e a descoberta de que o padrasto havia sido responsável pela morte da mãe joga Ramón contra Nicholas, que começa a ser espionado por Andrea Caracortada, a excêntrica apresentadora de um programa de TV sensacionalista. A partir da suspeita de que o escritor seja um assassino em série, Andrea empenha-se em registrar a vida de todos em busca de um furo jornalístico.

Em Kika, seu décimo filme, as marcas definidoras de Almodóvar parecem ter chegado a um clímax a partir de onde têm se recolhido para dar lugar a um criador mais sóbrio. O sexo (seus signos e suas definições), a morte (e suas determinações) e a abordagem amoral dos costumes e das pessoas sustentam uma história de sucessivos chistes, surpresas e lances inverossímeis, abrindo-se para um melodrama vertiginoso, repleto de caricaturas e exageros. Outra das marcas mais saborosas de Almodóvar, a história-dentro-da-história ou o recurso da metalinguagem propõe discussões mais familiares a este Clube de Cinema, tais como a representatividade da imagem, a ética da imprensa e do entretenimento, a objetividade e a subjetividade das mídias, por exemplo.

Cor, muita, legendado, 115 min.

Ran - 5/4



Ran (JAP/FRA, 1985)


Escrito, dirigido e editado por Akira Kurosawa

Produzido por Masato Hara e Serge Silberman

Fotografia de Asakazu Nakai, Takao Saito e Masaharu Ueda

Música de Toru Takemitsu

Direção de arte de Shinoubu e Yoshiro Muraki


Elenco: Tatsuya Nakadai, Satoshi Terao, Jinpachi Nezu, Daysuke Ryu.


Ambientada no Japão medieval, esta adaptação para as telas do Rei Lear de William Shakespeare tem início quando o senhor da guerra Hidetora anuncia a divisão das terras, do poder e da fortuna do clã em partes iguais, o que atiça a rivalidade de seus três filhos. Tentando manter o domínio de um reino em colapso, o shogun deposita confiança na falsidade dos filhos mais velhos – que às suas costas ambicionam o controle total – enquanto afasta a franqueza o caçula, o único com amor suficiente para apontar-lhe a verdade.


As vívidas pinturas que são o storyboard original de Ran refletem o interesse inicial de Kurosawa pelas artes plásticas e, junto com o ritmo lento das cenas e o uso massivo da cor, são grandes responsáveis pela dramaticidade do filme. Oscar de figurino para Emi Wada em um ano de outras três indicações, Ran e suas seqüências de batalha são as provas da vitalidade de um Kurosawa já com 75 anos de idade, cinco desde Kagemusha, a sombra do samurai – outro de seus tantos dramas épicos inspirados nos guerreiros japoneses dos tempos feudais.


Cor, claro, legendado, 161 min.

Mas que raios?


Muitos ainda se perguntam sobre o Clube de Cinema. Vê-se na expressão de quem vê os cartazes com o canto do olho, ou o lê com certa descrença. Absurdo, diga-se de passagem. O Clube de Cinema não tem pretensão alguma com a exclusividade, a não ser em sua seleção de filmes - ao excluirmos tudo que não presta. Transcrevo, abaixo, a proposta do Clube redigida por um de seus idealizadores, Gleber Pieniz.


O Clube de Cinema faz a exibição e a discussão pública gratuita de filmes com o objetivo de criar um ambiente de estudo e de reflexão sobre o cinema e as tecnologias da imagem, suprindo deficiências culturais locais. A proposta resulta de uma iniciativa dos alunos e quer valorizar o cinema em seus formatos alternativos, pouco conhecidos ou de difícil acesso. Eventualmente, o clube pode relacionar os filmes exibidos a temas do curso de Comunicação Social, apresentando-se como estratégia pedagógica complementar. O clube também espera produzir ensaios críticos e resenhas dos filmes exibidos para serem publicados em formato digital no site que se encontra em desenvolvimento. Futuramente, o Clube de Cinema pretende oferecer oficinas sobre aspectos técnico-estéticos do cinema, além de seminários ligados ao tema.


Agora que ficou mais clara a nossa proposta, apareça e discuta. Seja quem for, seja da onde for, apareça e dê sua opinião. Afinal, é isso que importa.

Agora deixe-me falar sobre a próxima sessão. O ciclo de abril encerrou-se em um tema bastante pertinente e deveras interessante. Depois de algumas discussões chegamos ao tema Filmes Absurdamente Coloridos. Fazendo um contraste ao ciclo anterior (março - P&B), dessa vez a idéia é analisar justamente o que as cores estão dizendo. Se em filmes como Pi a cor foi descartada num estímulo a prestar-se atenção em outras coisas, o que dizer de filmes como Ran, onde Kurosawa usa toda uma profusão de cores para discursar? O que as cores têm a dizer? De que maneira esse diálogo pode se estabelecer? Perguntas que nos cercarão durante o mês de abril. Perguntas que poderão ser respondidas aos sábados. Mas só às 19h.